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«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





26 março 2014

Daqui a pouco...

SERRAÇÃO DA VELHA

"Entre as várias manifestações populares do período quaresmal, a Serração da Velha teve, durante vários séculos, um lugar de destaque não só junto do povo português mas também além fronteiras. Há registos desta manifestação popular em Espanha, França (aqui conhecida como a festa da Mi-Carême), Itália, Brasil, Suíça,…

A sua origem é incerta. Autores há que defendem ter surgido em meados da Idade Média, ideia não de todo despropositada dado a Igreja Católica ter instituído, entre os séculos IV e VI, a Quaresma como período de abstinência, jejum, mortificação, em que os cristão se deveriam penitenciar pelas faltas cometidas ao longo do ano. Por outro lado, Ernesto Veiga de Oliveira diz-nos que “O nome da velha aparece … numa expressão meteorológica, que … designa um período que vai dos fins de Fevereiro aos princípios de Março… e que se encontra pela primeira vez em escritores árabes do século XIII, que lhe atribuem uma origem grega.”

Já Teófilo Braga diz-nos que “… essa salsada ou charivari de chocalhos, buzinas e campainhas com que percorre as ruas, era um acto do culto primitivo do politeísmo indo-europeu.”

E mais à frente no mesmo artigo, acrescenta referindo-se à Velha “…hoje é uma entidade vaga, sem sentido, que o povo vai serrar, isto é, que vai passar a serra, como quem repele para longe as brumas e as neves do inverno.”Sendo assim, a velha estava conotada com a morte, com as trevas da noite, o frio e as agruras do inverno; ao expulsá-la a meio da Quaresma o povo abria o caminho para a vinda da primavera, para a chegada da luz, do calor que trazem alegria e desenvolvem a vegetação, que fecundam e procriam. É ainda neste sentido que Adolfo Coelho nos diz que a Serração da Velha, o Enterro do Bacalhau e os Judas de Sábado de Aleluia mais não são do que a expulsão da morte, do longo período de inverno letárgico e redutor, ideia que Alberto Pimentel também defende quando afirma que “O costume da Serração da Velha parece conservar a tradição mítica da expulsão do inverno pela sua personificação numa Velha…”

Esta mesma ideia surge já na obra de Gil Vicente, famoso dramaturgo quinhentista, no seu “Auto do Triunfo do Inverno”, de 1529.

Eu próprio vou quebrar o meu Ramadão (pagarei a bula, não se preocupem os mais zelosos), neste dia que marca o meio da Quaresma e o regresso de uma tradição que foi interrompida há mais de uma década, em grande parte pela morte prematura de um dos elementos, mas este ano os restantes optaram por levar a cabo, também como forma de o recordar e homenagear.

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