Consertava quase tudo, guarda-chuvas, tachos, panelas, alguidares de esmalte e não só... Mas o pior era o som que saia da sua flauta (tipo pan), onde os lábios percorriam devagar num sentido e apressadamente no outro, provocando um arrepio nos putos que o ouviam.
Não, o som não era desagradável mas na aldeia diziam que era o capador e que vinha capar (castrar para os mais modernos), os meninos que não se portassem bem.
Pessoalmente, confesso que era das poucas coisas que me amedrontava, pelo menos até ganhar coragem e aproximar-me daquela amálgama de ferramentas e utensílios, capazes de afiar tesouras, facas e serrotes, enquanto ouvia as histórias do senhor que com uns óculos com armação ferrenha e lentes espessas, lá ia inventando... Enfim, talvez fosse a playstation da altura...
4 comentários:
A Pedra de Amolar
Aquele que comigo, quando eu choro, chora
Aquele que comigo dança,
A este jamais direi:
Ora, não me amoles Porque se como o ferro com ferro se afia
Afia o homem a seu amigo
Isto hoje te digo:
Podes me amolar!Ó Deus, dá que quando entre eu e meu amigo
Houver atrito a ponto de sair faísca de fogo
Que eu não me desaponte porque esse tal
É enviado teu pra que eu não fique cego.
Porque cego não vê que sem o esmeril
Se perde o fio, o gume
Quem pode perceber,
não perde a comunhão, assume
Estende a mão, aceita
A pedra de amolar
(um poema do Roberto Diamanso)
Bonito poema. Não conhecia, mas as memórias são isto mesmo, um nunca mais acabar...
Caro Manuel Marques, que poema interessante. Parabéns.
Fujam que vem aí o capador :D Era ir para dentro de casa sempre que ele chegava. Bem vistas as coisas o ditado "Quem tem cu tem medo" devia ter uma ligeira alteração.
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