A sorte que eu tenho...
...em conhecer e privar com pessoas assim.
Nasceu a 24 de Julho de 1926, em Canas de Santa Maria. Formou-se em Farmácia na cidade do Mondego. Regressado ao seu concelho de origem, fundou a primeira farmácia de Campo de Besteiros, seguindo-se a criação dos laboratórios Labesfal e de várias outras empresas.
Desempenhou vários cargos políticos de relevo: foi vereador da Câmara Municipal de Tondela e Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Besteiros.
A sua verdadeira obra iria, contudo, surgir longe do mundo dos negócios e da política. No início da década de 70, acolheu em sua casa uma criança com meses de vida, abandonada (portadora de mongolismo e filha de pais alcoólicos que lhe queimaram o esófago ao dar-lhe bagaço para que não chorasse). Faleceu em 2009, era a Bibi e tinha 38 anos.
A esta seguiram-se outras. Era o germinar do “Convívio Jovem” e da "Casa Os Andorinhas", instituição que erigiu e o levou a deixar todos os confortos para se dedicar aos desvalidos e marginalizados e por eles dar a vida.
«Tendo fechado negócios de milhares de contos que me permitiam aumentar mais uma ala ao laboratório, cheguei à conclusão que isso era maravilhoso, mas não se comparava a pegar num jovem e tirá-lo da vida má e fazer dele um rapaz que se governasse e vivesse bem. Não há dinheiro que se compare com isto.»
Não procura os apoios do Estado, tendo criado uma Fundação com o seu património (apenas para as pessoas que cá vivem possam continuar por cá quando eu morrer - disse-me) e vivendo também de algumas ajudas de particulares. Tem uma quinta onde os residentes criam animais e plantas para consumo próprio, mantendo-os ocupados e produtivos.
Um homem, nascido em berço de ouro, que aos 86 anos continua a trocar a comodidade que o dinheiro lhe proporcionaria, pela ajuda a marginalizados da sociedade.
Proporcional ao seu altruísmo, a fama de João Almiro atraiu para Campo de Besteiros jovens de todo o país. Muitos enviados por hospitais e cadeias. Em comum: famílias desestruturadas, pobreza, violência, abusos, violações, drogas, álcool e até doenças contagiosas.
Do alto dos seus 86 anos ainda conduz, é o médico, farmacêutico, enfermeiro, guarda-nocturno e "faz-tudo" na casa.
Desabafou esta pérola entre muitas outras: "sabe professor, uma pessoa quando está mal (como se estivesse num poço), pode receber uma corda (incentivos e palavras de confiança) pois ainda que não tenha força para subir, pelo menos agarrado à corda manter-se-é à tona, sem afundar completamente. Já se lhe atirarem pedras (palavras de desencorajamento e críticas), elas vão-se acumulando acabando por levá-lo ao fundo."
Também me confidenciou, sempre num tom rouco e pautado: "sabe professor, atrasei-me um pouco, pois venho agora do tribunal de Viseu. Assistia à leitura de uma sentença, mas o juiz ao ver-me na sala, transformou os 6 meses de cadeia do rapaz, em pena suspensa, desde que ele viesse ficar comigo durante esse tempo."
Ou seja, a sociedade reconhece-lhe valor e pessoas destas deviam ir à televisão e às rádios, para todos aprendermos com os seus exemplos, mas infelizmente, o tempo de antena é para outros "artistas"...
Enche-me de esperança ver pessoas assim e tento sempre aproveitar cada momento (e já foram alguns) com que consegue verdadeiramente moldar vidas e ser um verdadeiro mestre, não apenas pelas teorias, mas principalmente pelas acções do dia-a-dia e de uma vida.
Obrigado Dr. João Almiro!
P.S. - Os olhos vivos e sagazes da fotografia, associados à crista que orgulhosamente ostenta, dizem bem do espírito inconformista que o assiste
...em conhecer e privar com pessoas assim.
Nasceu a 24 de Julho de 1926, em Canas de Santa Maria. Formou-se em Farmácia na cidade do Mondego. Regressado ao seu concelho de origem, fundou a primeira farmácia de Campo de Besteiros, seguindo-se a criação dos laboratórios Labesfal e de várias outras empresas.
Desempenhou vários cargos políticos de relevo: foi vereador da Câmara Municipal de Tondela e Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Besteiros.
A esta seguiram-se outras. Era o germinar do “Convívio Jovem” e da "Casa Os Andorinhas", instituição que erigiu e o levou a deixar todos os confortos para se dedicar aos desvalidos e marginalizados e por eles dar a vida.
«Tendo fechado negócios de milhares de contos que me permitiam aumentar mais uma ala ao laboratório, cheguei à conclusão que isso era maravilhoso, mas não se comparava a pegar num jovem e tirá-lo da vida má e fazer dele um rapaz que se governasse e vivesse bem. Não há dinheiro que se compare com isto.»
Não procura os apoios do Estado, tendo criado uma Fundação com o seu património (apenas para as pessoas que cá vivem possam continuar por cá quando eu morrer - disse-me) e vivendo também de algumas ajudas de particulares. Tem uma quinta onde os residentes criam animais e plantas para consumo próprio, mantendo-os ocupados e produtivos.
Um homem, nascido em berço de ouro, que aos 86 anos continua a trocar a comodidade que o dinheiro lhe proporcionaria, pela ajuda a marginalizados da sociedade.
Proporcional ao seu altruísmo, a fama de João Almiro atraiu para Campo de Besteiros jovens de todo o país. Muitos enviados por hospitais e cadeias. Em comum: famílias desestruturadas, pobreza, violência, abusos, violações, drogas, álcool e até doenças contagiosas.
Do alto dos seus 86 anos ainda conduz, é o médico, farmacêutico, enfermeiro, guarda-nocturno e "faz-tudo" na casa.
Desabafou esta pérola entre muitas outras: "sabe professor, uma pessoa quando está mal (como se estivesse num poço), pode receber uma corda (incentivos e palavras de confiança) pois ainda que não tenha força para subir, pelo menos agarrado à corda manter-se-é à tona, sem afundar completamente. Já se lhe atirarem pedras (palavras de desencorajamento e críticas), elas vão-se acumulando acabando por levá-lo ao fundo."
Também me confidenciou, sempre num tom rouco e pautado: "sabe professor, atrasei-me um pouco, pois venho agora do tribunal de Viseu. Assistia à leitura de uma sentença, mas o juiz ao ver-me na sala, transformou os 6 meses de cadeia do rapaz, em pena suspensa, desde que ele viesse ficar comigo durante esse tempo."
Ou seja, a sociedade reconhece-lhe valor e pessoas destas deviam ir à televisão e às rádios, para todos aprendermos com os seus exemplos, mas infelizmente, o tempo de antena é para outros "artistas"...
Enche-me de esperança ver pessoas assim e tento sempre aproveitar cada momento (e já foram alguns) com que consegue verdadeiramente moldar vidas e ser um verdadeiro mestre, não apenas pelas teorias, mas principalmente pelas acções do dia-a-dia e de uma vida.
Obrigado Dr. João Almiro!
P.S. - Os olhos vivos e sagazes da fotografia, associados à crista que orgulhosamente ostenta, dizem bem do espírito inconformista que o assiste
2 comentários:
Existem pessoas tão especiais... :) Um beijinho para ti neste dia mais especial... Sei que és um grande pai e não só de sangue ;)
Obrigado!!!
Na Sexta-feira, contou-me que recebeu um homem de cinquenta e tal anos, alemão, totalmente incontinente, alcoólico crónico.
"Foi encontrado a deambular por Portimão e trouxeram-no cá."
"Está a ser tratado e quase já não precisa usar fraldas."
"Mas às vezes ainda tem alucinações. Ontem, partiu duas figuras (Santos, presumi eu) de um outro residente e este ficou bravo." - Disse com um sorriso de um menino de 86 anos.
Beijinho!
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