Vinha com um irmão pouco mais velho e muito calado - mais tarde percebi que a gaguez era a responsável por tanta timidez.
Aproveitando a hora do lanche e porque nessa altura o Jardel brilhava no FCP e eu, para tentar reduzir a dor de dois pequenitos que iam ser deixados pela mãe numa casa enorme, com muitas crianças, mas todas desconhecidas - logo, estranhas - perguntei se o conheciam.
Este pequenito, respondeu-me prontamente: "sou eu! O Jardel, sou eu!".
Claro que não era esse o seu nome, mas estava naquela fase em que sonhamos e encarnamos em personagens famosas - às vezes super-heróis.
Hoje continua um campeão, e sempre que fala comigo desde terras de sua majestade, sinto umas saudades danadas da sua energia e boa disposição contagiante.
2 comentários:
João Pedro:
São pequenas histórias como esta que ainda me fazem acreditar!
Acreditar que ao nascer não trazemos qualquer carimbo que nos identifique como maus ou bons, perigosos ou úteis à sociedade e mais que tudo dignos ou não de partilhar e usufruir dos direitos e deveres comuns aos que nascem com a cor de pele preferida, num ou noutro acidente geográfico, acreditando nesta ou naquela doutrina.
Porém, continuo a notar que os menos dotados de tais dávidas continuam a escapar-nos entre os dedos por preferirmos gastar tempo e dinheiro com eles depois de incarcerados em vez de o fazermos quando ainda é fácil incutirmos neles, a esperança, a boa vontade enfim mostrar-lhes que são humanos e que com todo o respeito serão tratados como tal!
Só é pena que a graça que recebeste para tão bem lidar, entender e solucionar alguns dos problemas destes nossos semelhantes não caia em mais de nós para nos tornar mais valiosos e contemplar-nos com a certeza que um dia olharemos por cima dos ombros e atraz de nós estarão aqueles a quem demos a semente dando frutos graúdos e soculosos seguindo o nosso exemplo. Como fico aquém de praticar aquilo em que acredito, não sei se por não acreditar ser capaz ou simplesmente falta de deligencia preocupa-me o dar testemunho daquilo que não faço por isso resta-me pedir que não desistas da luta e do bem fazer pois com toda a certeza algo de bom está guardado algures para ti ou os teus.
Uma coisa é certa, se o menino não era um Jardel quando o encontraste o é agora especialmente na forma de vencer . Venceu quando estava predestinado a perder e só não perdeu porque na sua vida se atravessou o João Pedro Gaspar,
Um abraço
Álvaro José
Álvaro José colocas muita responsabilidade nos meus ombros, mas acredita que a rapaziada mais nova apercebe-se muito bem das nossas incongruências e o "faz o que eu digo e não faças o que eu faço" nem sempre resulta.
Ou seja, educar é dar o exemplo, embora ressalvar sempre que não somos todos iguais e que a nossa idade permite alguns comportamentos não aceitáveis aos mais novos (desde logo beber, conduzir, votar, etc...)
Mas é importante mostrar firmeza e esperança, numa perspectiva humanista e integradora, com uma perseverança a toda a prova, capaz de vencer a teimosia rebelde.
Ter poder de encaixe para absorver alguma raiva (de resto, plenamente justificada pelas vivências porque passaram e passam) é uma missão :)
«pode-se dizer “não” com firmeza mas simultaneamente com bondade; pode também dizer-se “não” com violência e ódio…»
(Raymond, 1998)
Abraço e obrigado!
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