Houve um tempo em que o tempo nos parecia nunca poder acabar, como se a vida fosse um mar imenso e nós os seus habitantes anfíbios e imorredouros.
Aí, nesse tempo chamado tempo, nesse tempo chamado espaço, chamado casa, chamado vida, fomos polícias e ladrões, fomos pais e mães, médicos, malabaristas de bicicleta, jogadores de bola, saltadores de prédios, ladrões de fruta, convivas de aniversário, dançarinos de garagem, peregrinos em romarias, salteadores de grutas, inspirados atores…
…e fomos confidentes, de alegrias e tristezas, protagonistas de fábulas apenas aparentemente desesperadas, irmãos amigos inseparáveis, pela vida toda enquanto durasse a memória de um grito, de um sorriso, de um choro ou de um espasmo de puro contentamento…
…e fomos uns nos outros, vidas com vidas, da manhã à noite, a todas as horas, pois era só isso que queríamos ser. é só isso que ainda queremos ser e, se calhar, é ainda só isso que somos.
Mas o tempo passa e não passa por nós, leva-nos com ele, em caprichosas mudanças, que não esperamos nem queremos, até já serem tantas, as mudanças, que já não podemos viver sem elas.
Depois, um dia há, em que uma espécie de lamento surdo nos atira lá para trás, para o que nunca esquecemos, mas nos habituamos a não carregar connosco para que a saudade não seja tanta, para que não seja tão penoso perceber que o mundo já não cabe na nossa mão, agora que tanto precisávamos dele, para que não sejamos confrontados com a incontornabilidade de que, afinal, a necessidade é que nos fragmenta a alma e a decompõe em pedaços.
Um dia há em que o sussurro nos arremessa contra a viagem do tempo.
E como gostamos desse aconchego, dessa proteção, desse amor, regressamos lá, uma e outra vez, revemos o filme da nossa infância e voltamos a ser mergulhados numa espécie de redenção.
Uma redenção regeneradora, que se torna essencial e nos leva a tomar essa viagem como um exercício para o Equilíbrio das nossas vidas.
2 comentários:
É assim...
Mesmo!!!
Enviar um comentário