A enclavar desde 2005

«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





14 abril 2006

Um elogio às faltas

As faltas dos deputados não são um problema assim tão grave. Até parece que estamos perante uma grande perda. Tendo em conta a contribução da maior parte deles para a qualidade da legislação produzida, não sei se as faltas dos deputados não devam ser consideradas bastante positivas para o país. Para além disso, estas faltas resolvem dois problemas à Assembleia da República.

Em primeiro lugar, já não é necessário reduzir o número de deputados pois só metade é que exerce efectivamente as suas funções. E em segundo lugar, o problema da incompatibilidade entre a função de legislador e a função de advogado fica automaticamente resolvido já que os senhores deputados que são advogados nem sequer chegam a exercer a função de legislador.

Deve no entanto dizer-se que o sistema de faltas e os ralhetes de sua Excelência o Presidente da República não contribuem em nada para dignificar a função de deputado. Espera-se que um deputado seja um individuo autónomo com capacidade para distinguir as votações verdadeiramente importantes daquelas que não interessam a ninguém. Faltar a uma votação devia ser um acto político tão natural quanto o de estar presente.

Pudessem os senhores deputados faltar livremente às votações sem ter que se justificar e o país seria poupado a dezenas e dezenas de leis inúteis. Aliás, com tanta legislação em vigor, muita dela considerada a mais avançada do mundo, nem sequer se justifica que o Parlamento esteja aberto o ano inteiro. Dez ou vinte dias por ano seriam suficientes para aprovar a legislação realmente necessária. No resto do tempo o Parlamento poderia estar fechado que ninguém sentiria a sua falta.

De qualquer das formas, os deputados nem sequer têm autonomia para tomar as suas próprias decisões. Estão lá para fazer quórum, e só se nota a sua falta nos raros casos em que não há quórum porque eles não se coordenam e resolvem faltar todos ao mesmo tempo.

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