A enclavar desde 2005

«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





27 abril 2011

Geração à rasca?

Geração à rasca foi a que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser diferente, pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social.

Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e decrianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.

Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra. Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc.

A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país ou de ler-lhe a correspondência. Os televisores LED, ou a 3 dimensões eram uns caixotes a preto e branco ondese colocava à frente do ecrã um filtro colorido, mas apenas se conseguiatransformar os locutores em ET's desfocados. Na rádio ouviam-se apenas 3 estações - a oficial Emissora Nacional, acatólica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos então os Gato Fedorento, mas dava-nos imenso gozo ouvir Os Parodiantes de Lisboa, ou a Voz dos Ridículos.

As Raves da época eram as festas de garagem, onde de ouvia música de vinil ese fumava liamba das colónias. Nada de Bares ou Danceterias. As Docas erampara estivadores, e O Jamaica do Cais do Sodré para marujos.A "Night" era para os boémios. Éramos a geração das tascas, das casas defado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de Carvalho ou a Vadeca.

As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que a nossa juventude enviava lá da guerra aos pais, noivas, namoradas ou madrinhas de guerra. Agora vivem na Internet, ora alimentando números de socialização no Facebook, ora cultivando batatas no Farmville. Os SMS e E-Mails cheios de "ke" vazios de assentos eram as nossas cartas e postais ou papelinhos contrabandeados nas aulas. As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas por via marítima. Quem não se lembra do Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrososnavios que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza - a viagem de ida, quer fosse para Angola, Moçambique ou Guiné.

Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas. Coca-Cola e Pepsi? Eram proibidas. Bebia-se laranjada, gasosa ou pirolito.

Na minha geração, dos jovens só se esperava que fossem para a tropa ou emigrassem. Na minha Geração o país, tal como as fotografias, era a preto e branco.



(Recebido por e-mail)

3 comentários:

Ana disse...

Um belo texto, cheio de verdade. o país pode estar cheio de problemas mas a minha geração fui e é muito privilegiada.
beijinhos

Anónimo disse...

Geração à rasca?

Neste post que faz aqui este ponto de interrogação?

O título estaria melhor se fosse posto assim::

Esta sim, foi a Geração à Rasca.

Falta aqui também mais barcos tal como o Niassa, Pátria, Príncipe Perfeito e até o Vera Cruz e Infante D. Henrique que também transportaram parte desta geração sendo o Niassa aquele que mais serviço fez.

Tudo isto que aqui é relatado neste post é uma realidade porque a vivi, onde a morte várias vezes esteve à minha frente e, só não aconteceu porque não estava destinado o meu dia final naquele tempo.

Fome, miséria, maus tratos, enfim tanta coisa que aqui poderia dizer mas que o post em si relata tudo aquilo por que passei.

Diz-se por aí agora um slogan que muito me faz rir e acho até ser desprezível que é o de:

Geração à rasca.

Afinal pergunto eu:

Qual Geração à rasca?

Aquela a que eu assisto terem um carro, dois telemóveis, um portátil, outro PC Desktop, altas farras na noite, estudos à mercê, vestir do que é melhor, calçar bem caro, enfim, tudo na palma da mão e ainda é pouco, porque a maioria no final de tudo isto nada produz apenas querem todas estas mordomias seja a que preço for.

A isto poder-se-à chamar sim a tal Geração Rasca porque, a nada daquilo que este post aqui relata dão valor visto que, vivem num mundo de tudo tenho sem nada fazer nem haver preocupações.

É isto em grande parte o Portugal de hoje porque, aquele em que a tal Geração à Rasca viveu teve a marca real daquilo a que agora se distingue da de actual.

Este post JPG é talvez um dos melhores que até hoje aqui vi porque, relata aquilo que foi uma realidade de tempos em que a tal Geração à Rasca sofreu na pele e de que maneira, de tudo o que de pior a vida nos pode dar.

Pode-se até perguntar o seguinte:

Geração destas haverá ainda alguma por aí?

Acho que não porque nada disso vejo.

Parabéns por este post que por certo fará roer consciências daqueles que por tais Gerações nunca passaram.

JPG disse...

Nem todos os jovens terão acesso à realidade aqui descrita e o normal é qurermos melhorar e não regredir.

Podem sempre dizer que na idade média nem luz, nem esgotos, nem justiça, nem médicos...

O importante é que nenhuma geração se tome como única vítima e tentem dar as mãos no sentido de "arrepiar caminho".