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«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





30 dezembro 2011

A crise

A palavra mais ouvida em 2011 foi "CRISE".

Sem atribuir culpados (porque no fundo, fomos todos nós, embora uns mais do que outros...), vou passar para o teclado o que me passa pelos neurónios...

Recuem para o início dos anos 90 (apenas duas décadas) e pensem no parque automóvel (ou em quem tinha carro mal fazia os 18 anos). Eram raros os carros novos e os FIAT, Renault e Ford eram 100 vezes mais que os BMW, Mercedes ou Audi.

Ainda nessa época, pensem nos computadores (portáteis, nem pensar?) que praticamente só existiam nas casas dos mais abastados. Pensem nos telemóveis e nos aparelhos de DVD, com sistema surround, pois claro!

Floresceram "Rádios Populares", "Wortens", "San Luis" e outros que tais e todas as casas têm vários destes "electrónicos". Pois as lojas...

Ai as lojas que abriram (cinemas transformados em lojas de roupa, cafés centenários transformados em lojas de roupa e planaltos com vegetação, transformados em muuuitas lojas de roupa).

Férias no estrangeiro, guarda-roupas a transbordar, calçado ao pontapé...

Os bancos enviavam cheques e cartões de crédito pelo correio, para a malta gastar à vontade. Como se um dia não tivéssemos que pagar...

Enfim, vivemos à grande e à portuguesa!!! (Já desde os "reais tempos" os tugas mostraram invulgar capacidade de esbanjar tesouros - vindos das ex-colónias ou da "mãe-Europa").

Acontece que os créditos foram-se acumulando, o pessoal habituou-se a primeiro ter e só depois pensar em pagar, mas o pior não era isso...

O pior é que as lojas que surgiram aos molhos, não vendiam produtos feitos em Portugal (nem na Europa)!

O pior é que comprávamos por comprar, mesmo que não necessitássemos...

Mas o pior mesmo é que o Estado nos foi habituando a isso, ao permitir por parte das instituições financeiras tantos incentivos ao crédito e ao dar o exemplo a endividar-se com a construção de estádios megalómanos, submarinos a preços absurdos, projectos de aeroportos e comboios rapidíssimos, tudo como se fôssemos um país abastado e com uma economia pujante.

Agora, estamos a cair em nós... é a ressaca do consumismo desenfreado!

Durante muitos anos ouvi os mais velhos desabafarem: "agora é só comprar, só comprar... não sei onde isto vai parar!"

Comer camarão, picanha, rodízio ou leitão acontecia em ocasiões especiais e hoje já nos farta tais iguarias, preferindo uma sopa de gão-de-bico ou uns jaquizinhos com arroz de tomate.

Ir "almoçar fora" era quando o rei fazia anos...

A verdade é que deixámos de ter prazer no consumo, tal a sua banalização. Esta crise pode devolver-nos o gosto de viver certas ocasiões especiais (como passar um fim-de-semana num hotel à beira-mar).

Saibamos aproveitar os aspectos positivos e tentemos seguir o que o Jorge Palma cantou: "reduz as necessidades se queres passar bem!"

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