A enclavar desde 2005

«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





20 janeiro 2014

Há um ano atrás... esta árvore com centenas de anos tombou


2 comentários:

Super-febras disse...

Há um ano atrás... Esta árvore...
Há quase um ano atrás ligava eu o computador e sem de nada desconfiar conectava com o site do Google e no teclado pressionava as letras R.i.b.e.i.r.a. D.e. F.r.a.d.e.s. para matar saudades e tentar estar a par de alguns acontecimentos da terra e do singular e bom povo que me criou.
Ao este abrir nem podia acreditar ou melhor não queria acreditar! Calamidade na minha aldeia, ao meu povo, ao meu pequeno e débil clube e à mais velha, corpulenta, testemunha histórica, ser de encantamento e nosso muito meu orgulho, a sábia oponente Amoreira.
Fiquei paralisado, estatil até no olhar, em suores frios ainda deixei a hipótese de um pesadelo poder explicar o que via e a sensação de horror que sobre mim pairava.
Abanado para a realidade com um apertar do estômago como se de um soco se tratasse e uma dor no peito parecendo-me que deixado tinha o meu coração de pulsar sabia que nada podia fazer, nada estava ao meu alcance, que naquele momento a distância me tinha transformado num inútil incapaz de a agarrar, abraçar e com força, sei lá adrenalitica, tentar ergue-la e entre dentes e maxilares cerrados gritar-lhe:
-Levanta-te amiga...levanta-te Ribeira.
Chorei e sem saber como ou porquê achei-me a rezar.
O meu avô Francisco (Mestre Xico) pescador que foi nas geladas águas da Terra Nova e Groenlândia dizia-me que um homem só sabe o que é verdadeiramente rezar quando vai ao mar. A mim também uma tempestade me fez dobrar, por terra de joelhos cair e pedir a quem toda a Forca da natureza nas mãos cravejadas tem, que olhasse pela minha Amoreira e ao humildemente pedir por ela, como só quem é pequeno e impotente pode pedir, senti que pedia pelo grão povo da minha aldeia, pela minha amada Ribeira.
É óbvio que o meu bradar, A quem tão poderoso é e tantos defeitos me achará, por certo ouvido mas pela minha insignificância e merecimento ignorado seria não fosse a Graça que bem merece a terra barrenta e que de barro se inunda e o povo Ribeirense que a habita, cultiva e nela há séculos presta culto.
Esperar por um Sírio quinhentista debaixo do calor ardente de meados de Agosto, beijá-lo como se fosse ao Redentor, banhá-lo de lágrimas como que lavando os pés a um mendigo, enfeitando as nossas janelas para o receber com as melhores, mais bonitas e coloridas colchas como se esperássemos a entrada na nossa aldeia de Alguém acavalitado num pequeno asno, levantando aos céus os vapores que exalam as nossas caçoilas como se de queimar incenso a Deus se tratasse tem sido ano após ano, década após década, século após século uma das grandes razões da força do nosso bairrismo, a razão do nosso orgulho, o que marca a diferença com as populações vizinhas e aquilo que debaixo da sentinela de São Miguel nosso padroeiro nos tem protegido e beneficiado com astúcia para entender o que não nos é claro e força para como filhos da mesma aldeia mudarmos e superarmos os problemas que nos vão afligindo e como "por linhas tortas" também nos unindo. Não é também Deus o criador das intempéries?
Orgulho-me de ser Ribeirense.
Os Ribeirenses foram capazes de levantar uma velha árvore. Tenho a certeza que tal como eu, todos se aperceberam que um pouco de si morreria se a Amoreira morresse. Que nobre foi levantá-la! Que exemplo e que grande lição para os nossos jovens o foi tal acto! Replantá-lá foi depositar esperança, um sinal monstro de boa vontade.

Há um ano... Há quase um ano atrás chorei lágrimas de alegria ao receber a notícia por uma funcionária da nossa junta, quando lhe telefonei de que tinha sido já erguida e não me preocupasse eu.
Afinal falamos da Ribeira de Frades e das suas Gentes...dos seus valores...

Há um ano atrás... Esta árvore... Esta Ribeira... Este povo... mais guardados ficaram, mais encarecidos se tornaram no meu saudoso coração.

Obrigado Ribeirenses, obrigado João Pedro.

Um grande abraço para ti esta noite, que aqui se espera chegar aos trinta e sete negativos

Álvaro José

JPG disse...

Esse sentimento que nos une, apesar do largo oceano, ajuda a entender o que somos enquanto povo.

Por cá, apesar de telhas levantadas, muros derrubados e chapas caídas, a amoreira era o assunto de todas as bocas.

Soube que várias pessoas choraram a olhar para a fiel companheira ali jazida, enorme, mas frágil.

Mas a malta tem fibra (e cérebro), a natureza é mãe e a providência encarregou-se do resto.

Pessoalmente, li artigos novos e livros velhos, fiz umas perguntas a professores vestutos, vigiei os rebentos e quando surgiu o primeiro e tímido sinal...

Fiquei com uma certeza que nem os comentários que ouvi de que seriam apenas resquícios de seiva, mas nunca iriam rebentar, me fizeram abalar.

Cá a temos!!!

Abraço!