A "enclavar" desde 2005, contra a imbecilidade de governantes e a passividade Lusa
A enclavar desde 2005
«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.» Professor Agostinho da Silva
06 fevereiro 2014
Esta malta não facilita
Levam o Núcleo Sportinguista do Mondego a todo o lado...
Ainda conseguem pôr vários ribeirenses na televisão...
E deixam o Aniceto a olhar para a Lenka (ou lá como se escreve a modelo que contrasta com o Fernando Mendes).
Só reconheço o Martinho, que em solteiro vivia em Santa Eufemia. Andei com o seu irmão Alexandre na escola. Belo rapaz e grande colega nas brincadeiras do recreio. Começou cedo a ganhar a vida. Eram muitos lá em casa. Ainda andávamos na escola, já ele passava à minha porta ao fim do dia, todas as Santas tardes, tardes que eram de férias grandes e contava-me que ganhava o dia espantando os pardais nos campos de arroz fazendo imenso barulho, tocando bombo todo o dia em grandes latões. Fazia-me sonhar, achava brutal a ideia de ser um anti-pastor de pássaros ! Em vez de os agrupar como o faz às ovelhas um pastor, desperçava-os! Em vez da flauta para ajudar a passar o tempo ao ritmo de chocalhos, uma maçaneta e vai de malhar no Zé-Pereira! Também me lembro muito bem da sua mãe. Muito Ribeirense no trajar, saia escura a baixo dos joelhos, avental de dois bolsos quem sabe escondendo a algibeira, também esta usada atada à cinta, lenço à cabeça, blusa que mal se via pois era sempre coberta pelo xaile negro. Xaile que nas pontas era ratado de franjas, é que elas arrancavam-se quando este se atava atrás das costas depois de cruzado no peito para que se libertassem os braços e as mãos que eram precisos para erguer e amparar os braçados de erva para os animais, os carregos de nabos que de madrugada se vendiam na praça e os feixes de lenha que cozinhavam enchendo a cozinha de fumo, a batata e as nabiças que junto com uns feijões, um naco de toucinho e uma chouriça caída do varal que residia nas entranhas da chaminé e depois de regados com um verde-doirado fio de azeite, quase como por milagre, dava a sopinha fumegante, mexida e tirada com larga colher de pau da enfarruscada panela de ferro, que mais sabor lhe dava, e se enchiam as malgas, comidas sôfregas no regaço, acompanhadas de pedaços de broa retirada do forno à pazada, com côdea rija, estaladiça e o miolo besuntado com óleo e alguma escama da sardinha salgada acabada de assar nas brasas do borralho. Admirava muito esta Senhora. Invejava a sua fé. Não me lembro de a ter visto na nossa igreja aos Domingos, pressuponho que seguisse as ordens do Salvador e rezasse sozinha, escondida no quarto para que ninguém a visse! Mas sei que chegado o mês de Maio, partia, com outras e outros, de cesto de verga à cabeça, almofadado por um dos seus lenços em forma de rodilha, a pé, à chuva e ao sol, ora sufocada pelo calor ora tremendo de frio, rumo à Cova, em peregrinação cheia de esperança, cegamente acreditando que um dia a sua pequenina filha caminharia! Era uma mulher pequena, quase tão pequena como a minha Avó Mabília, mas com uma força interior igual Àquele que abriu o mar, Àquele que derrotou Golias, Àquela que entre a multidão esticando-se se atreveu, impura como era dada, tocar as franjas azuis da milagrosa estola. Acreditava sem ver, sem tocar, sem precisar algo perguntar! Tinha a certeza...Sabia... Que Mulher, que Mãe , que Grã Ribeirense! Que barro este! Barro que está e somos todos nós, barro Ribeirense. Só nos falta cegamente a creditar.
Um abraço para ti e para todos os do nosso barro Álvaro José
Brutal, como é possível tu estando tão longe te mantens tão perto. Invejo-te a memória, com estas e outras palavras pereço um mau Ribeirense. Das poucas vezes que te tenho visto por cá, temos bebido umas minis por mera coincidência, lembro-me de ti, tu talvez não te lembres pois vivo nos Carregais. Espero que da próxima vez venhas com tempo para partilhares connosco as tuas LEMBRANÇAS. Quim Padeiro
Não me invejes a memória que ela é coisa fraca. Peço desculpa de não reconhecer mais Ribeirenses, mas com os anos as feições mudam, e os nomes próprios evaporam-se da moleirinha. Mas , digo-vos, que penso que sou capaz de apontar as caras que são da minha Ribeira, pois todos vós sois família. Já lá vão trinta e cinco anos. E nesses anos todos o pior de roer tem sido as saudades da minha aldeia, da sua magnífica gente, das pessoas que me ajudaram a criar, e foram muitas. Saudades das várzeas, do campo, do rio, da amoreira, do tocar do sino ao meio-dia-velho pelo Ti Corino, das andorinhas que não tarda nada estão a chegar. Saudades de ao Domingo assistir aos desenhos animados no café do Sr. João Coimbra com o Zerra e o Carlos Moura a ser os protagonistas principais, graças à algazarra que faziam, até das piadas do Zé Santa sobre a sua querida Morte enquanto me alinhavava o casaco que haveria de estrear pela Sra. da Nazaré. Saudades das discussões sobre o futebol no estimado Ti Jaleta que tanto queria que eu estivesse quieto enquanto ele me arrepiava o cabelo atrás das orelhas com a máquina manual de tosquiar, sem dó nem piedade e que apesar de não fazer anúncios ao seu negócio, pendurava na porta do estabelecimento panfletos anunciando -"Se és bom Sportinguista deixa crescer o bigode!". Também de ver os jogos à malha no Sr Franco, do estalar metálico das rodas dos "carros" e cascos na calçada de pedra redonda Vila-boa abaixo. Saudades dos golos do Rogério e depois do Poiares, da carripana de rolamentos do grande amigo Meco, dos jogos à bola no Rebolim em que as balizas eram calhaus e eu e o Zezito Cabaço derrotávamos o meu bom amigo e para sempre parceiro Fernandito Cabaço e o seu primo Tó-Zé. Saudades das papas de farinha no dia em que fazia a broa a boa mulher, Ti Piedade Rata, dos gêmeos, Beto e Nito, grande companheiros e amigos na brincadeira no pouco tempo que lhes sobrava, pois desde tenra idade ajudavam os pais tendendo um belo rebanho de ovelhas que quase todos os dias descia ao campo e subia ao Rebolim atravessando a nossa aldeia, muitas vezes acompanhado pelo burro mais campeão que já houve na nossa aldeia, o Calvário. Saudades de ouvir cantar e tocar um jovem que regressava sempre nas ferias, vindo do Porto, cabelo como uma juba, tal hippie, e lá do alto do sarrado, dedilhava a guitarra do seu avô e cantava umas canções rock que o meu pai detestava mas que me maravilhavam e influenciaram no tipo de música e instrumento que tanto gosto, enfim saudades de tudo e todos! E dos roubados no Ti Ramiro? É claro que sim. E do papo-secos do Lino? E das histórias do grande orador Ti Abílio? Cheguei a ve-lo orar na Ti Lurdes e ninguém piava a escutá-lo e quando acabava as suas monologuisses o riso geral "arrebentava" e tão famosas eram as suas histórias que corriam as tavernas todas em redor nos próximos dias! Guardei tudo no meu coração e peço a Deus que me chame antes de tudo isto esquecer. Quim fica prometido que nos havemos de encontrar por aí um dia destes e conversaremos até se fazer dia, se for preciso. Muito obrigado pelas tuas palavras, mas não faço mais que o meu dever em não deixar esquecer quem tanto me deu de bom, a Ribeira e a sua gente.
João Pedro Alguns ficam sempre para trás. Não o faço de propósito. Só escrevo aquilo que me vai afluindo em pensamento e no momento! Se pensar muito, escrevo e apago tantas vezes que depois não me revejo na escrita. Assim todos sabem quem eu sou, aquilo que penso e a maneira como o faço é sempre a preto e branco. Peço desculpa, especialmente por elaborar e complicar as coisas a maioria do tempo, mas também eu sou complicado. Tens razão a ti Arminda, tia do Zé-Zé, era um lugar espetacular e tinha rebuçados a meio tostão muito tempo depois de desaparecerem nos outros lugares. Com 25 tostões fazia-se uma festa! Com 28 tostões já os rebuçados eram outros, e só 10 sem filtro, kentuky's. O Ti David também fui lá muitas vezes aos "furos"! Acredita , estão cá todos! Só que saem aos soluços cerebrais. Sei que estas a brincar, mas gostaria de escrever o que me vai na alma com périplo. Assim teria cabeça, tronco e membros. Melhor seria navegável!
5 comentários:
Obrigado João Pedro
Só reconheço o Martinho, que em solteiro vivia em Santa Eufemia. Andei com o seu irmão Alexandre na escola. Belo rapaz e grande colega nas brincadeiras do recreio.
Começou cedo a ganhar a vida. Eram muitos lá em casa. Ainda andávamos na escola, já ele passava à minha porta ao fim do dia, todas as Santas tardes, tardes que eram de férias grandes e contava-me que ganhava o dia espantando os pardais nos campos de arroz fazendo imenso barulho, tocando bombo todo o dia em grandes latões.
Fazia-me sonhar, achava brutal a ideia de ser um anti-pastor de pássaros ! Em vez de os agrupar como o faz às ovelhas um pastor, desperçava-os! Em vez da flauta para ajudar a passar o tempo ao ritmo de chocalhos, uma maçaneta e vai de malhar no Zé-Pereira!
Também me lembro muito bem da sua mãe. Muito Ribeirense no trajar, saia escura a baixo dos joelhos, avental de dois bolsos quem sabe escondendo a algibeira, também esta usada atada à cinta, lenço à cabeça, blusa que mal se via pois era sempre coberta pelo xaile negro. Xaile que nas pontas era ratado de franjas, é que elas arrancavam-se quando este se atava atrás das costas depois de cruzado no peito para que se libertassem os braços e as mãos que eram precisos para erguer e amparar os braçados de erva para os animais, os carregos de nabos que de madrugada se vendiam na praça e os feixes de lenha que cozinhavam enchendo a cozinha de fumo, a batata e as nabiças que junto com uns feijões, um naco de toucinho e uma chouriça caída do varal que residia nas entranhas da chaminé e depois de regados com um verde-doirado fio de azeite, quase como por milagre, dava a sopinha fumegante, mexida e tirada com larga colher de pau da enfarruscada panela de ferro, que mais sabor lhe dava, e se enchiam as malgas, comidas sôfregas no regaço, acompanhadas de pedaços de broa retirada do forno à pazada, com côdea rija, estaladiça e o miolo besuntado com óleo e alguma escama da sardinha salgada acabada de assar nas brasas do borralho.
Admirava muito esta Senhora. Invejava a sua fé. Não me lembro de a ter visto na nossa igreja aos Domingos, pressuponho que seguisse as ordens do Salvador e rezasse sozinha, escondida no quarto para que ninguém a visse! Mas sei que chegado o mês de Maio, partia, com outras e outros, de cesto de verga à cabeça, almofadado por um dos seus lenços em forma de rodilha, a pé, à chuva e ao sol, ora sufocada pelo calor ora tremendo de frio, rumo à Cova, em peregrinação cheia de esperança, cegamente acreditando que um dia a sua pequenina filha caminharia! Era uma mulher pequena, quase tão pequena como a minha Avó Mabília, mas com uma força interior igual Àquele que abriu o mar, Àquele que derrotou Golias, Àquela que entre a multidão esticando-se se atreveu, impura como era dada, tocar as franjas azuis da milagrosa estola. Acreditava sem ver, sem tocar, sem precisar algo perguntar! Tinha a certeza...Sabia...
Que Mulher, que Mãe , que Grã Ribeirense! Que barro este! Barro que está e somos todos nós, barro Ribeirense. Só nos falta cegamente a creditar.
Um abraço para ti e para todos os do nosso barro
Álvaro José
Brutal, como é possível tu estando tão longe te mantens tão perto. Invejo-te a memória, com estas e outras palavras pereço um mau Ribeirense. Das poucas vezes que te tenho visto por cá, temos bebido umas minis por mera coincidência, lembro-me de ti, tu talvez não te lembres pois vivo nos Carregais. Espero que da próxima vez venhas com tempo para partilhares connosco as tuas LEMBRANÇAS.
Quim Padeiro
Olá João Pedro , olá Quim:
Não me invejes a memória que ela é coisa fraca.
Peço desculpa de não reconhecer mais Ribeirenses, mas com os anos as feições mudam, e os nomes próprios evaporam-se da moleirinha. Mas , digo-vos, que penso que sou capaz de apontar as caras que são da minha Ribeira, pois todos vós sois família. Já lá vão trinta e cinco anos. E nesses anos todos o pior de roer tem sido as saudades da minha aldeia, da sua magnífica gente, das pessoas que me ajudaram a criar, e foram muitas. Saudades das várzeas, do campo, do rio, da amoreira, do tocar do sino ao meio-dia-velho pelo Ti Corino, das andorinhas que não tarda nada estão a chegar. Saudades de ao Domingo assistir aos desenhos animados no café do Sr. João Coimbra com o Zerra e o Carlos Moura a ser os protagonistas principais, graças à algazarra que faziam, até das piadas do Zé Santa sobre a sua querida Morte enquanto me alinhavava o casaco que haveria de estrear pela Sra. da Nazaré. Saudades das discussões sobre o futebol no estimado Ti Jaleta que tanto queria que eu estivesse quieto enquanto ele me arrepiava o cabelo atrás das orelhas com a máquina manual de tosquiar, sem dó nem piedade e que apesar de não fazer anúncios ao seu negócio, pendurava na porta do estabelecimento panfletos anunciando -"Se és bom Sportinguista deixa crescer o bigode!". Também de ver os jogos à malha no Sr Franco, do estalar metálico das rodas dos "carros" e cascos na calçada de pedra redonda Vila-boa abaixo. Saudades dos golos do Rogério e depois do Poiares,
da carripana de rolamentos do grande amigo Meco, dos jogos à bola no Rebolim em que as balizas eram calhaus e eu e o Zezito Cabaço derrotávamos o meu bom amigo e para sempre parceiro Fernandito Cabaço e o seu primo Tó-Zé. Saudades das papas de farinha no dia em que fazia a broa a boa mulher, Ti Piedade Rata, dos gêmeos, Beto e Nito, grande companheiros e amigos na brincadeira no pouco tempo que lhes sobrava, pois desde tenra idade ajudavam os pais tendendo um belo rebanho de ovelhas que quase todos os dias descia ao campo e subia ao Rebolim atravessando a nossa aldeia, muitas vezes acompanhado pelo burro mais campeão que já houve na nossa aldeia, o Calvário. Saudades de ouvir cantar e tocar um jovem que regressava sempre nas ferias, vindo do Porto, cabelo como uma juba, tal hippie, e lá do alto do sarrado, dedilhava a guitarra do seu avô e cantava umas canções rock que o meu pai detestava mas que me maravilhavam e influenciaram no tipo de música e instrumento que tanto gosto, enfim saudades de tudo e todos!
E dos roubados no Ti Ramiro? É claro que sim. E do papo-secos do Lino? E das histórias do grande orador Ti Abílio? Cheguei a ve-lo orar na Ti Lurdes e ninguém piava a escutá-lo e quando acabava as suas monologuisses o riso geral "arrebentava" e tão famosas eram as suas histórias que corriam as tavernas todas em redor nos próximos dias!
Guardei tudo no meu coração e peço a Deus que me chame antes de tudo isto esquecer.
Quim fica prometido que nos havemos de encontrar por aí um dia destes e conversaremos até se fazer dia, se for preciso. Muito obrigado pelas tuas palavras, mas não faço mais que o meu dever em não deixar esquecer quem tanto me deu de bom, a Ribeira e a sua gente.
Um grande e saudoso abraço
Álvaro José
Não falaste da loja da ti Arminda, nem do ti David, "ondas curtas", mas o périplo foi bem traçado!
Abraço!!!
João Pedro
Alguns ficam sempre para trás. Não o faço de propósito.
Só escrevo aquilo que me vai afluindo em pensamento e no momento! Se pensar muito, escrevo e apago tantas vezes que depois não me revejo na escrita. Assim todos sabem quem eu sou, aquilo que penso e a maneira como o faço é sempre a preto e branco. Peço desculpa, especialmente por elaborar e complicar as coisas a maioria do tempo, mas também eu sou complicado. Tens razão a ti Arminda, tia do Zé-Zé, era um lugar espetacular e tinha rebuçados a meio tostão muito tempo depois de desaparecerem nos outros lugares. Com 25 tostões fazia-se uma festa! Com 28 tostões já os rebuçados eram outros, e só 10 sem filtro, kentuky's. O Ti David também fui lá muitas vezes aos "furos"!
Acredita , estão cá todos! Só que saem aos soluços cerebrais.
Sei que estas a brincar, mas gostaria de escrever o que me vai na alma com périplo. Assim teria cabeça, tronco e membros. Melhor seria navegável!
Um abraço
Álvaro José
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