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«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





14 agosto 2015

As figurinhas da praia...

O poster
O poster é aquele gajo que vai para a praia pausar o seu cenário barraquê: tatuagem tribal no braço; Liliana em árabe, nome de quem ele pensa ser a sua filha; aqueles calções curtos e fluorescentes à Cristiano Ronaldo ou, caso não tenha tido tempo de os comprar, puxa os seus para cima, arregaçados a mostrar os quadríceps depilados. O poster nunca larga os óculos escuros da moda nem para ir para a água. Fica ali, a molhar os pés e a contemplar a linha do horizonte e a infinitude do universo. Isso e os rabos das gajas que passam, obviamente. Os posters, por norma, vão em bando, sem mulheres, e ficam sempre com um escaldão nas costas porque são incapazes de pedir a um amigo que lhes passe creme, com medo de lhes começar a apetecer um folhado de salsicha e estragar a dieta de batidos de proteína. O poster faz danças de acasalamento em pleno areal que passam por dar toques na bola, jogar às raquetes a atirar-se para o chão, ou a fazer rasteiras aos amigos e mostrar-lhes os truques que aprendeu a ver o UFC.

O gangue das poderosas
As poderosas são as fêmeas naturais dos posters. Vão à praia como quem vai para um casamento, casamento esse que parece o do Toy ou o da Luciana e do Yannick. Vão maquilhadas, cheias de brincos e pulseiras, e de sandálias de salto alto para empinar o seu rabo que, invariavelmente, vai destapado com com um bikini fio dental de cortinado, todo enfiado na gaveta. Nota-se que é um gangue porque todas têm uma tatuagem tribal ao fundo das costas, mostrando que são fieis às sua raízes. Quando vêem alguma criança que se esqueceu do ansinho, prontificam-se a ajudar com as suas unhas de gel pontiagudas, capazes de escavar na areia molhada até ao núcleo da terra. Depois, retiram a areia que ficou presa nas unhas utilizando o piercing do umbigo ou da língua. Passam a tarde toda a tirar fotografias aos pés, às pernas com o mar em pano e fundo e a tirar selfies para actualizar o perfil do Facebook de cinco em cinco minutos, acompanhadas de frases em brasileiro. Tiram, também, fotos a mostrar o rabo "sem querer", com citações ao género "A melhor curva do corpo de uma mulher é o seu sorriso", mostrando que confundem os conceitos de fio dental com fio dentário.

O Mário Soares
Felizmente, há quem não ligue a essas parvoíces do culto da imagem padrão que a sociedade nos tenta impor. Acho muito bem que uma mulher tire a roupa mesmo quando a balança marca o red-line. Acho óptimo que se sintam confortáveis com o seu corpo e exibam toda a sua xixa no esplendor de um fio dental, ou de um bikini normal que parece um fio dental, tal a escala e perspectiva distorcida dada pelo naco de picanha. Volto a afirmar que acho muito bem e cada um usa o que quer, mas, como é óbvio, essa liberdade também me permite que vos diga que parecem o Mário Soares com umas cuecas na cabeça e as bochechas ao pendurão. Parecem aqueles rolos de carne aos quais se atou um cordel antes de ir ao forno e estão ali com a carninha toda arrepanhada que até é capaz de fazer mal e cortar a circulação. Nunca fazem qualquer tipo de desporto na praia a não ser para correr atrás do senhor das bolas de Berlim a quem pedem sempre duas, uma para a viagem, e sempre com creme. 

O frango do churrasco
Há sempre alguém, normalmente proveniente de países do norte, que a meio do dia já apresenta uma coloração que nos dói só de olhar. Já não é aquele típico vermelho vivo, mas sim uma cor de sangue pisado, já roxo e de pele encarquilhada que é óbvio que vai doer. Aquilo é carne que já está podre e cozinhada ao mesmo tempo e que já nunca mais lhes vai servir para nada. Não é um escaldão, é uma queimadura de terceiro grau para a qual não há creme hidratante e Aloe Vera que alivie. Aquilo é, basicamente, um cancro instantâneo e aquela pessoa vai falecer em poucos dias, ou pelo menos, vai desejar que isso aconteça de cada vez que for tomar banho e passar a toalha porosa naquela carne viva. Já tenho os testículos arrepiados só de pensar.

A família
A típica família portuguesa é uma das espécie autóctones a todas as praias nacionais. Sejam emigrantes ou não, o padrão é sempre o mesmo. Muita gente a falar alto, 37 chapéus-de-sol e 12 pára-ventos, todos montados qual obra prima da engenharia cigana. Mal assentam o acampamento, as tias velhas começam a gritar com os putos para virem pôr protector solar, enquanto os homens começam a abrir a geleira e a tirar as caricas com os dentes. Muitos desses homens usam bigode, têm um chapéu panamá a tapar a careca e, claro, usam uma cuequinha de banho a mostrar o enchumaço da tomatada com os pelos todos a brotar pelas virilhas quais ervas daninhas em campo selvagem. As mulheres da família fazem uma espécie de concurso masterchef, cada uma com a sua geleira a dar a provar as iguarias que passou a noite anterior a confeccionar. É sandes com ovo mexido, é croquetes e rissóis, é tupperwares com feijoada à transmontana, há de tudo e claro que não pode faltar o melão e melancia cortados aos cubinhos. Aí de quem disser à tia Júlia que a quiche da tia Clotilde está mais saborosa que a dela. "Pois, mas a tia Clotilde nunca trabalhou nem criou dez filhos com um ordenado mínimo". E pronto, está o caldo entornado e passam o resto do dia a discutir as desavenças antigas da família. O pior das famílias na praia são as crianças mal educadas. Ontem, na praia da Batata, em Lagos, assisti a uma cena daquelas dignas de um tutorial "Como não ser pai". Uma miúda, com os seus doze anos, estava farta de perguntar quando é que podia ir para a água. Os pais disseram-lhe "meia hora" e ela de dois em dois minutos voltava a perguntar, até que, vendo que ainda faltavam 20 minutos, começou a chorar, a estrebuchar e a rebolar-se na areia, num espectáculo que parecia algo saído do Cirque du Soleil ou de uma discoteca cheia de doentes epilépticos. Gritou e grunhiu qual javali a jogar à cabra cega num quarto cheio de pioneses no chão. Isto durou meia hora, todas as pessoas na praia a olhar para ela, a mãe a ignorar, o pai claramente a querer dar-lhe uma chapada com uma pedra da calçada, mas a não o fazer porque actualmente é mal visto bater nas crianças em público. Foram embora, com ela de arrasto aos berros e o irmão mais novo a dizer "Vamos embora? Olha Mariana, muito obrigado... por nada". Depois os cães é que estão proibidos de entrar nas praias... enfim.

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