A enclavar desde 2005

«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





08 janeiro 2020

Nasci fora do tempo

Segundo as crónicas da época, com uma irmã já com 10 anos e um irmão de 5 anos, estava já o casalinho e a "fábrica teria fechado". Mas teimoso desde o espermatozóide, lá terei "vingado".

Antes de completar 2 anos de vida foi-me diagnosticada anemia - mais assustadora, pois de quando em vez, os valores estariam tão maus, que se falava de "passar a leucemia - o que quase me impediu de ter uma infância em pleno.

Médicos, análises ao sangue (com menos de 10 anos já ia sozinho de autocarro ao Laboratório Salutis, (na Baixa) tirar sangue. Agulhas, sangue, medo... não me assistiam :)

Aprendi - à força - a gostar de fígado (de todas as formas), espinafres (até a água que os fervia servia de "sumo") e até sangue de cavalo, comprado num talho da Rua da Moeda ou trazido de Espanha por um camionista amigo.

Mas o pior era o descanso forçado. Com tanta energia, ter que estar deitado (a sesta era insuportável, mas agora gosto) enquanto ouvia a bola e os companheiros a brincar na rua ou no campo de futebol, malvadamente em frente ao meu quarto... digno de fazer queixa a todas as CPCJ do país.

Mais espigadote, havia que conciliar estudo, trabalhos (vários, pois as coisas não eram fáceis) e as móinas, pois então!

De tal modo me habituei a um ritmo agitado que não me recordo de não ter sempre mais do que uma ocupação em simultâneo (trabalhar, estudar, voluntariado, formação, explicações, associativismo, etc).

Sempre com tempo para estar com os amigos...

A minha avó com a sua provecta idade chegava a dizer "pensas que se te acaba o Mundo, mas olha que tu é que te acabas para o ele..."

Essas palavras passaram a fazer mais sentido quando o cabelo foi caindo e os joelhos rangendo. De tal modo que, correndo atrás do tempo, pois segundo parece, não teremos outra oportunidade - afinal, só vivemos uma vez cada dia - usufruindo de cada segundo, sem ficar com a sensação tardia... "podia ter aproveitado mais... podia ter feito aquilo..."

Aqui chegado, enquanto tiver energia e discernimento, tentarei desfrutar, pois tal como na endurance acho que encontrei o meu ritmo e abrandar, para mim, é um esforço.

É o que dá nascer fora do tempo, depois temos que correr contra ele e mais tarde... correr com ele :)

2 comentários:

Elisabete disse...

Mas, olha que temos que saber abrandar...
Gostei da tua reflexão.
Bjs

JPG disse...

O corpo dá sinais...

Beijinho