A enclavar desde 2005

«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





09 novembro 2006

Gripe dos homens

Pachos na testa, terço na mão
Uma botija, chá de limão
Zaragatoas, vinho com mel
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.

Ai Lurdes que vou morrer...

Mede-me a febre, olha-me a goela
Cala os miúdos, fecha a janela
Não quero canja, nem a salada

Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.

Se tu sonhasses como me sinto...
Já vejo a morte, nunca te minto
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo

Ai Lurdes, Lurdes fica comigo...

Não é o pingo de uma torneira
Põe-me a Santinha à cabeceira
Compõe-me a colcha
Fala ao prior
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada

Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada...

Faz-me tisana e pão-de-ló
Não te levantes que fico só
Aqui sozinho a apodrecer

Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer!...

António Lobo Antunes

3 comentários:

Amigo da Sopa disse...

Como dizia o outro: "Avia-te, avinha-te e abafa-te!"...que com a Lurdes não te safas. As melhoras!

JPG disse...

Avia-te - interpreto tipo "ataca um borreguinho assado no forno"

Avinha-te - interpreto tipo "carrega uns tintos caserinhos do Paraisal (Castelo Mendo)"

Abafa-te - interpreto como "com as castanhas, malha umas jerupigas, ou abafado"

Anónimo disse...

A meu ver muitíssimo bem interpretado...
Dá-lhe gás.